INVESTIGAÇÃO

MP investiga decreto que amplia construção urbana em Bento Gonçalves

Assinada no fim de 2024, a medida aumenta o índice de aproveitamento de solo urbano até o limite de 3,5 sem aquisição adicional

MP investiga decreto que amplia construção urbana em Bento Gonçalves MP investiga decreto que amplia construção urbana em Bento Gonçalves MP investiga decreto que amplia construção urbana em Bento Gonçalves MP investiga decreto que amplia construção urbana em Bento Gonçalves
Foto: Patrick Alessi/Grupo RSCOM
Foto: Patrick Alessi/Grupo RSCOM

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) investiga a edição do Decreto Municipal nº 12.626/2024, assinado pelo prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, em dezembro do ano ado. O decreto permite a ampliação do índice de aproveitamento do solo urbano até o limite de 3,5, sem necessidade de aquisição adicional, e teria sido publicado nos últimos dias de 2024. Medida beneficiaria exclusivamente um empreendimento no bairro São Francisco.

A investigação ocorre em duas frentes na Promotoria. A promotora Carmem Garcia analisa a legalidade da norma e seus impactos urbanísticos, enquanto o promotor Gabriel Munhoz Capelani apura possíveis atos de improbidade istrativa. O inquérito foi motivado por representações de vereadores e do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do RS (IAB-RS).

IAB-RS questiona legalidade do decreto

Para o IAB-RS, o decreto afronta o Estatuto da Cidade (Lei Federal nº 10.257/2001), que exige que alterações urbanísticas estruturais sejam feitas por meio de lei municipal, e não por decreto. O instituto critica a decisão do prefeito de adotar um instrumento jurídico inferior para modificar regras de planejamento urbano sem consultar o Conselho Municipal de Planejamento (COMPLAN) e sem a participação da comunidade.

IPURB sob pressão

Outro ponto de tensão envolve o Instituto de Planejamento Urbano de Bento Gonçalves (IPURB), mencionado no decreto como a entidade que teria solicitado a medida. Entretanto, membros do COMPLAN contestam essa informação. Em 21 de janeiro de 2025, seis deles enviaram um ofício à diretora do IPURB, Melissa Bertoletti Gauer, exigindo cópia do pedido encaminhado ao prefeito, registro da discussão no Complan e parecer jurídico que embasou a decisão. Até o momento, segundo os signatários, não houve resposta.

No documento, os conselheiros alertam que a medida “fragiliza a gestão democrática da cidade” e pode gerar nulidade jurídica em futuras decisões sobre a área beneficiada. O terreno em questão, anteriormente pertencente ao DAER, já estava em debate técnico devido à implantação de um grande empreendimento privado.

Possíveis desdobramentos

Os promotores aguardam um posicionamento oficial do prefeito Diogo Siqueira antes de definir os próximos os da investigação. Caso sejam confirmadas irregularidades, o MP pode recomendar a revogação do decreto e adotar medidas judiciais contra os responsáveis.

Na ocasião da publicação do decreto, a Prefeitura justificou que a medida apenas regulamenta o inciso VI do artigo 134 da Lei Complementar nº 200/2018, previsto no anexo 7.3 da Lei do Plano Diretor. Segundo o Executivo, a regulação estava pendente e viabiliza a caracterização da área como “Interesse Consorciado”, permitindo a amplificação do índice construtivo. Fontes ligadas ao IPURB sustentaram que a permuta do terreno para a construção do novo presídio dependia desse aumento no índice de aproveitamento.

Arquivo/Leouve

O que diz a Prefeitura?

A assessoria de comunicação do Executivo Municipal informou que todas as respostas solicitadas pelo Ministério Público foram enviadas e que a Procuradoria Geral do Município aguarda o andamento do processo.

“Posteriormente poderá ser feita manifestação”, afirmou.