Últimas notícias

Um relógio para Maria

Um relógio para Maria Um relógio para Maria Um relógio para Maria Um relógio para Maria
Um relógio para Maria

Tiquetaquetiquetaque, um tapa na cara; tiquetaquetiquetaque, um xingamento, tiquetaquetiquetaque, um tiro e a escuridão, a dor e, o desamparo seguem contando as horas intermináveis da violência doméstica.

Tiquetaquetiquetaque. Esta semana lembramos que, há 11 anos, uma lei tornou crime a violência doméstica e familiar contra a mulher. De lá pra cá, muita coisa mudou e muitos avanços foram conquistados, mas a violência ainda é uma realidade na vida de milhões de mulheres país afora.

E, por isso mesmo, se temos o que comemorar, também é preciso reconhecer que ainda há muito a fazer. Tiquetaquetiquetaque. É que ainda hoje, uma mulher sofre uma agressão qualquer no país a cada dois segundos, uma mulher apanha a cada cinco minutos, e 13 mulheres morrem a cada dia no país vítimas da violência.

Ainda hoje, convivemos com a vergonha que coloca o Brasil como o quinto país mais violento com as mulheres no mundo, e essa estatística precisa nos deixar chocados e provocar nossa reação cada vez mais forte. Tiquetaquetiquetaque e segue batendo.

E por aqui no estado não é diferente, e os números mostram que quase 170 mulheres são agredidas de alguma forma a cada dia no Rio Grande do Sul, e mais de 30 mil casos foram registrados só neste ano. Tiquetaquetiquetaque e segue ando.

Por isso, é preciso repetir como um relógio esses números, pra que homens e mulheres se conscientizem do cenário violento que vivemos. E também por isso, a iniciativa do Instituto Maria da Penha de criar um contador que chamou de Relógios da Violência adquire mais importância. Tiquetaquetiquetaque.

A verdade é que, nesses 11 anos, ainda que a aplicação da Lei Maria da Penha enfrente problemas, ela já mostrou que é fundamental para diminuir a violência doméstica, pra quebrar o relógio e punir com mais rigor os agressores.

E os números, ainda que sejam altos, mostram que, cada vez mais, as mulheres ligam o alarme, perdem o medo e denunciam a agressão.

Isso quer dizer que a verdadeira revelação da estatística é que, se ela mostra apenas o número de vítimas que confia na justiça, então a realidade indica que a violência agride ainda mais mulheres a cada dia. Tiquetaquetiquetaque. E o relógio segue contando.

E é exatamente isso que precisa parar. É este o comportamento a ser combatido diariamente. Porque as consequências da violência doméstica estão muito além de qualquer estatística.

Por isso, é urgente reforçar a prática da lei, porque muitas autoridades ainda se recusam a praticá-la, e porque grande parte dos avanços que a lei trouxe precisa de investimentos pra surtir feito.

Não basta só punir o agressor, é preciso criar centros de atendimento, casas-abrigo, delegacias especializadas, serviços de saúde, e centros de educação e de reabilitação para os agressores. E mudar a cultura que ensina que em briga de marido e mulher não se mete a colher.

É preciso meter a lei. É preciso parar o relógio. Tiquetaquetiquetaque.

O certo é que ainda temos um longo caminho a percorrer e muitas horas a contar. E essa é uma tarefa de todos, das famílias, das escolas, de toda a sociedade e dos poderes constituídos, que evidentemente precisam assumir seu papel de protagonista para mudar esse país.