
Nesta semana, trago um resumo especial da entrevista com o professor Marcelo Dutra, docente de Ecologia na FURG, em Rio Grande. Mesmo já atuando há anos em pesquisas e alertas ambientais, Marcelo ganhou maior notoriedade durante as enchentes de 2024. Há tempos, ele vem advertindo sobre o chamado “novo normal climático”, uma realidade que já impõe desafios profundos para o Estado do Rio Grande do Sul.
Marcelo observa que o aumento dos eventos climáticos extremos é uma verdade inescapável. Segundo ele, a intensificação desses fenômenos coloca em risco cidades, uma vez que áreas estão sendo construídas cada vez mais próximas de regiões vulneráveis, como margens de rios sujeitas a enchentes e alagamentos. Essa exposição resulta, em grande parte, de práticas inadequadas de uso do solo e falta de planejamento, criando um cenário cada vez mais perigoso para a população.
O professor ressalta que é preciso tirar os relatórios climáticos do universo acadêmico e colocá-los em prática: a sociedade precisa vivenciar e compreender, no dia a dia, como o novo normal climático impacta diretamente a vida das pessoas.
Marcelo é enfático: o que vivenciamos em 2024 não foi um evento isolado, tampouco algo superado. Novos episódios podem se repetir, talvez sob outras formas, mas exigirão adaptações constantes. Esse novo normal é marcado por uma crise climática que desafia profundamente nosso modo de viver tanto no campo quanto na cidade; nossas formas de organização não acompanham a velocidade das mudanças.
No Rio Grande do Sul, o evento extremo mais recorrente são as estiagens, que há décadas geram enormes prejuízos à produção agrícola. A cada ano, cresce o número de municípios e áreas atingidos — e as perdas econômicas só aumentam.
Com esse cenário, todos perdem: agricultores, cidades, economia. As adaptações são urgentes, mas esbarram em falta de investimento. Para Marcelo, captar recursos em fundos internacionais é fundamental, embora desafiador. Ainda assim, ele alerta que precisamos reconhecer nossa fragilidade diante de catástrofes, e debater instrumentos de planejamento que continuam ausentes ou insuficientes em nossas cidades.
Planejamento Urbano e Resiliência Municipal
Para Marcelo, a primeira medida indispensável é o planejamento urbano e rural, especialmente a revisão dos planos diretores municipais. Esses planos modelam a cidade que queremos construir, e por isso devem trazer orientações claras sobre onde e como pode crescer a ocupação urbana, levando em conta as áreas de risco e a vulnerabilidade climática.
Planos diretores bem elaborados, aliados a eficientes planos de contingência, são a base de uma cidade resiliente. Os planos de contingência, segundo Marcelo, devem conter mapas de vulnerabilidade que permitam identificar e proteger as áreas mais frágeis das cidades, direcionando ações rápidas e eficazes em situações de emergência. A ausência ou insuficiência desses planos compromete a gestão de riscos e aumenta o impacto de eventos extremos.
Balanço Positivo: Iniciativas que Inspiram
Apesar dos muitos desafios, há exemplos que nos mostram caminhos. Um deles é o Plano Rios Grande, que montou uma equipe técnica dedicada ao clima e estabeleceu um comitê científico em esfera estadual. A iniciativa tem se mostrado fundamental para reunir conhecimento, orientar políticas públicas e responder com mais agilidade às demandas e emergências climáticas.
Contudo, Marcelo ressalta: é preciso replicar este modelo de sucesso também na esfera municipal. Ao fortalecer comitês científicos e equipes técnicas locais dedicadas ao clima, garantimos governança mais eficiente, respostas rápidas e a criação de estruturas permanentes de prevenção e gestão de riscos — pois é nos municípios que os impactos são vivenciados de forma mais imediata.
A entrevista é um chamado à reflexão e, principalmente, à ação. Não podemos mais ignorar que o futuro já chegou. Adaptar nossas cidades, inovar em políticas públicas, fortalecer equipes e buscar planejamento participativo são os essenciais para enfrentar o novo normal climático que já se impõe.
Confira a entrevista completa, em breve no portal Leouve.