ALERTA

Clima extremo pode afetar produção rural do RS nos próximos 15 anos

Afirmação é do engenheiro florestal e consultor em geotecnologias Marcos Kazmierczak que participou da Jornada Técnica Cooperativa RTC, em Gramado

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Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini
Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

O engenheiro florestal, fundador e consultor de geotecnologias na KAZ Tech e especialista em Imagens Orbitais e Sub-orbitais, Marcos Kazmierczak, em sua incursão no evento realizado pela Rede Técnica Cooperativa, braço científico da CCGL, em Gramado, não usou meias palavras para definir a situação climática no agro do Rio Grande do Sul como preocupante.

“Para reverter o quadro de aquecimento global, precisaríamos reduzir em 87% a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera, o que não vai acontecer. Estamos numa emergência climática e não levará mais 80 anos para acontecer nova enchente”, afirmou o especialista.

Num cenário avaliado até 2040, disse o engenheiro, ocorrerá aumento de chuva em todos os municípios, mas de forma heterogênea, além disso, haverá incremento das chuvas extremas, com muito mais temporais em 491 municípios do Rio Grande do Sul, com o número máximo de dias secos consecutivos aumentando de 31 a 40 dias para 81 a 90 dias de calor intenso.

“Tudo que faz fotossíntese vai sofrer, a produção animal com redução drástica de produtividade: gado de leite e frangos e a tendência de que isso ocorra é muito grande”, alertou.

Kazmierczak demonstrou que os eventos extremos estão mais recorrentes, mais destrutivos e mais abrangentes, com incremento de ocorrências de 225,76% no Brasil e de 190,77% no Rio Grande do Sul, num comparativo entre os períodos de 1994-2003 e 2014-2023. Nesta mesma época, o total de habitações afetadas no Brasil cresceu 653,65%, com prejuízos estimados de R$ 1.172,43 bilhão. No Estado, esse aumento foi de 4.519,64%, com prejuízo de R$ 1.326,42 bilhão.

Medidas de Mitigação e Adaptação Propostas

Diante desse alerta, o pesquisador elencou uma série de medidas de mitigação que poderiam ajudar na reversão do quadro, como melhorar a saúde do solo através de práticas que aumentem o teor de carbono, em pelo menos 3%, frear o uso excessivo de fertilizantes à base de nitrogênio, promover proteínas de menor emissão, reduzindo o consumo anual de carne bovina em 25% até 2030 e em 50% até 2050, reduzir o metano e o óxido nitroso do arroz cultivado em 50% até 2050 e baixar a taxa de 33% de toda a comida produzida para 10% em 2050. “Dessas, apenas a primeira me parece viável, por isso, o importante é investir em práticas de adaptação”, acrescentou. Tais práticas seriam o desenvolvimento e difusão de cultivares resilientes, gestão integrada de recursos hídricos e implementação de programas de transferência de tecnologia e assistência técnica específica. “Se seguir o aumento de temperatura, o arroz, por exemplo, poderá ter redução de 4% a 6% em produtividade e não vai ter água para aumentar irrigação, pois devemos perder até 40% da água até 2040”, projetou.

Aceleração das Mudanças Climáticas e o Impacto na Produção Agrícola

A trajetória de mudanças climáticas que resultou em perdas na produção agrícola nos últimos cinco anos no Rio Grande do Sul não tem previsão de reversão nos próximos 30 anos. Muito pelo contrário: está acelerando. “Se parar de acelerar já será um ganho”, pontuou o pesquisador da Embrapa Agricultura Digital e coordenador da Rede Zarc-Embrapa de Pesquisa e Desenvolvimento em Gestão de Riscos Climáticos na Agricultura, Eduardo Monteiro.

Segundo Monteiro, o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) foi atualizado em nove anos e agora abrange os período de 1992 a 2022. Os novos mapas incluem pontos de alerta e estudos que indicam revisão de recomendações de plantio no país. Os modelos estão mais sensíveis ao aumento das temperaturas. No Sul, especificamente, há redução de parte dos riscos em função do aumento do índice de precipitação.

“No Estado, tivemos uma sucessão de eventos, com três anos consecutivos de seca, 2023 com ciclone e um 2024 com essa inundação que foi o maior desastre climático da história”, citou.